Julho - 2006

COMUNIDADES DE PRÁTICA(CoP) E EDUCAÇÃO:
A VISÃO DE UM CURRÍCULO EM REDE

     Qual o tamanho da sua escola? Ela tem muitos profissionais? Ela oferece condições para que você compartilhe as suas práticas pedagógicas ou administrativas? Proporciona espaços para que reflita a respeito da sua condição enquanto profissional? Saiba que é possível viabilizar a construção de Comunidades de Prática (CoP) na sua instituição, pois existe naturalmente um agrupamento de pessoas que trabalham de modo informal em atividades comuns ou por necessidade de aprendizado no coletivo.

     Mas o que são Comunidades de Prática (CoP)? Elas estão por toda parte, no trabalho, na escola e no lazer e pertencemos a agrupamentos que são potenciais comunidades, como, por exemplo, núcleos, associações e grupos. Atuamos de modo periférico ou participamos de forma efetiva em determinados grupos ou podemos nos juntar para tentar encontrar o nosso lugar nele, contudo conectamos as pessoas porque somos seres sociais e históricos.

     Muitas vezes, marcamos refeições com colegas de trabalho para discutir assuntos relativos a nossas atividades profissionais, soluções de problemas ou tomadas de decisões. A Comunidade de Prática (CoP) é considerada um modo de trabalho, no qual os membros têm um espaço de tempo e um espaço geográfico ou tecnológico para discutir e compreender a instituição e negociar sentidos com os outros participantes. Podem relacionar-se mutuamente na instituição para trabalhar temas ligados ao trabalho e compartilhar rotinas, responsabilidades, recursos tecnológicos, registros, vocabulários e estilos.

     As diretrizes externas podem influenciar o trabalho nas comunidades, no entanto não impedem que os membros desenvolvam as práticas sociais, pois são sistemas auto-organizáveis. As Comunidades de Prática (CoP) podem existir em toda a instituição, tendo em vista que a sociedade é baseada na participação e não precisa de uma hierarquia rígida para existir. Têm estágios de desenvolvimento que se iniciam com o agrupamento por interesses ou necessidades, seguem para uma organização informal, têm o auge com os membros se engajando no desenvolvimento de práticas compartilhadas, segue com alguns participantes interessados na continuidade e, se amparada pelos recursos tecnológicos, são capazes de receber novos membros e ter o registro do que foi construído.

     Como se constituem em espaços para aprendizagem coletiva, conseguem que novos membros aprendam com os membros mais experientes, a todo o momento na comunidade são construídos conhecimentos acerca de um domínio – assunto principal – e aprendizado profissional de modo que os participantes podem analisar e refletir a respeito do próprio trabalho e propor soluções inovadoras para a instituição. Os limites da Comunidade de Prática (CoP) são mais flexíveis que os da organização, sendo assim, as pessoas podem contribuir de maneiras e planos diferentes. Os membros periféricos têm oportunidades de aprender, porque apreendem a prática em termos concretos e os participantes centrais conseguem trabalhar conceitos e práticas com os membros mais novos.

     Equipes de trabalho são diferentes de Comunidades de Prática (CoP), porque o primeiro não necessita de atividades com a prática compartilhada. O ciclo vital da comunidade está relacionado com os estágios de expansão, maturação, plena atividade e dispersão, não é remissivo a programação institucional. Difere da rede de relacionamentos profissionais porque têm identidade e promovem a identidade entre os membros por meio da produção compartilhada da prática social no processo coletivo de aprendizagem.

     Os conhecimentos desenvolvidos são provenientes das atividades exercidas e nas Comunidades de Prática (CoP) têm um relacionamento diferente com a instituição oficial, pois a organização não é soberana em relação à comunidade, caso contrário, não existiria a participação efetiva. O conhecimento é criado, compartilhado, organizado, revisado, registrado, armazenado e disseminado com o auxílio da tecnologia e é oriundo da prática compartilhada entre os participantes

     Os membros da Comunidade de Prática (CoP) têm o compartilhamento entendido por todos, sabem o que é relevante comunicar e como apresentar as informações, como conseqüência é um modo de movimentar informações relevantes e práticas construídas para além dos limites da instituição. Os participantes podem sistematizar rotinas e tarefas e por preservar aspectos tácitos do conhecimento é possível iniciar novos aprendizes na prática construída.

     A colaboração não é temporária, está presente na resolução dos problemas e nas tomadas de decisões. A identidade é fundamental para o aprendizado na organização, possibilitará a criação de jargões e vocabulários próprios que facilitarão o entendimento entre os pares. O desenvolvimento da capacidade de criar e reter conhecimento deve ser entendido pela instituição como um processo que precisa de aprendizagem na comunidade, compartilhamento, interação e tecnologia para não perder o registro ou obstruir os processos de construção.

     Diferente dos papéis exercidos na instituição, os participantes da Comunidade de Prática (CoP) terão domínios e ações próprias, assumirão responsabilidades de condutores de discussões que irão contribuir com os projetos da instituição; de criadores e trabalhadores do conhecimento; de mentores para separar o conhecimento da prática; de estrategistas para encontrar soluções para unir Comunidade de Prática (CoP) e instituição; de construtores de novas práticas e comunidades; de reconhecedores do potencial de aprendizagem da instituição; de desenvolvedores de soluções tecnológicas para a Comunidade de Prática (CoP); de designers de ambientes para a aprendizagem e compartilhamento das práticas construídas.

     O currículo em rede não será mais um corpo do conhecimento a ser transmitido ou uma tentativa de conseguir extrair produtos, consistirá no processo de aprendizagem e no trabalho com as práticas pedagógicas e administrativas e desenvolverá o pensar na prática social como modo de construir o conhecimento e utilizar os recursos tecnológicos com o viés social e histórico. A leitura de mundo (FREIRE, 1979, 1989, 2003) precederá o registro, contudo necessitará do apontamento e do armazenamento para que os participantes sejam capazes de escrever os contextos e as histórias para que os outros consigam transformar os mundos por meio da prática consciente e da significação da experiência existencial (FREIRE, 1989) e em relação à comunidade.


Espaço para compartilhamento de Conhecimento:

Fórum Comunidade de Prática (CoP) no Portal da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.


Neli Maria Mengalli
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo – PUC–SP
Professora no Programa de Educação Continuada, PEC-MUNICÍPIOS – PUC–SP
Professora e Orientadora no Projeto Gestão Escolar e Tecnologias – PUC–SP
Professora no curso EAD na Prática: Planejamento, Legislação e Implementação – COGEAE/PUC–SP.



Melhore os conhecimentos a respeito de Comunidades de Prática (CoP) em:

LAVE, J; WENGER, E. Situated Learning: Legitimate Peripheral Participation. United Kingdom: Cambridge University Press, 1991. 138p. Learning in Doing: Social, Cognitive & Computational Perspectives Collection.
MENGALLI, N. M. Conceitualização de Comunidade de Prática (CoP). Acesse o conteúdo aqui .
WENGER, E. Communities of Practice: Learning as a Social System. Systems Thinker. Acesse o conteúdo aqui.
___________. Communities of Practice: Learning, Meaning, and Identity. United Kingdom: Cambridge University Press, 1999. 336p..
___________. Communities of Practice: The Key to Knowledge Strategy. In Lesser, E.; Fontaine, M.; Slusher, J. (ed.), Knowledge and Communities. Boston: Butterworth-Heinemann, 2002. p. 3-20..
___________; MCDERMOTT, R.; SNYDER, W. Cultivating Communities of Practice: A Guide to Managing Knowledge. Boston: Harvard Business School Press, 2002. 352p..
___________; SNYDER, W. Communities of Practice: The Organizational Frontier – A New Business Management Aid. Harvard Business Review, 78 (1), 2000. 139–147

Melhore os conhecimentos a respeito de Paulo Freire nos livros citados em:

FREIRE, P. A importância do Ato de Ler em Três Artigos que se Completam. 23. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1989. 49p. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo. 4v.
_________. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação: Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. [trad.] Kátia de Mello e Silva, [rev. tec.] Benedito Eliseu Leite Cintra. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979. 53p.
_________. Pedagogia da Esperança: Um encontro com a Pedagogia do oprimido. 11. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 245p.