Incluir a aprendizagem conectada não é
modernidade, é a realidade mundial. Devemos
entender que a tecnologia avança na medida
do avanço econômico, na medida das necessidades
que o homem tem e cria novas ferramentas para avançar
progressivamente. É falso pensarmos que as
tecnologias empregues na e para a educação
tiram os professores de cena e limitam a sensibilidade
daqueles que a usam.
Lembremos de Rubem Alves, quando tinha 60 e poucos
anos, legou-nos "Estórias de quem gosta
de ensinar" (Cortez, 1991), gosto muito de dialogar
com o Rubem, com sua agitada calmaria, acredito que
típica das pessoas amadurecidas e sábias,
coloca-nos o ensinar como algo natural, simples e
fácil, assim como deve ser o amor.
Lá pela página 11 de seu livro, o Rubem
nos diz assim: "Todo mundo reclama do fracasso
da educação no Brasil. Os alunos de
hoje não são como os alunos de antigamente.
Nem mesmo sabem escrever. Que dizer do aprendizado
da Ciência, esta coisa tão importante
para o projeto Brasil grande potência? E eu
fico a me perguntar se o problema não está
justamente aqui. Um bem-te-vi que consiga ser aprovado
com distinção na escola dos urubus (quem
sabe com um daqueles Q.I.s de causar inveja?) pode
ser muito inteligente para os urubus. Bem-te-vi é
que ele não é". (ALVES, 1991, p.
11)
Pensando bem, o Rubem tem razão, pois, "(...)
para educar bem-te-vi é preciso gostar de bem-te-vi,
respeitar seu gosto, não ter o projeto de transformá-lo
em urubu. Um bem-te-vi será sempre um urubu
de segunda categoria. Talvez para se repensar a educação
e o futuro da Ciência, devêssemos começar
não dos currículos-cardápios,
mas do desejo do corpo que se oferece à educação.
É isto: começar do desejo ... Conhecimento
é coisa erótica, que engravida. Mas
é preciso que o desejo faça o corpo
se mover para o amor. Caso contrário, permanecem
os olhos, impotentes e inúteis ... Para conhecer
é preciso primeiro amar". (idem, ibid,
p. 12-24).
Então, sem uma grande
paixão não há conhecimento? Sem
a paixão pelas possibilidades que o novo pode
proporcionar não há conhecimento?
E por isso, talvez encontramos na rotina
repetitiva "o jeito que a vida tem para dizer
que tudo vai bem, que ela não está em
perigo. Já a novidade que interrompe a monótona
rotina binária é um sinal de alarme,
sirene que toca, alerta de perigo, sempre acompanhada
do susto e medo"(idem, p.43).
Permanecer com o que todos já sabem, ou podem
facilmente saber, não é vantajoso, o
professor deve ter em mente percorrer novas trilhas,
mesmo que ela possa por acidente arranhar a "frágil
bolha de sabão".
O medo não ensina ninguém a aprender
e a gostar de estudar. O prazer nos leva a estudar,
pesquisar, investigar, perguntar, descobrir, provar,
criar ... mas tudo isso, às vezes, acaba impróprio
ao professor, afinal juramos lealdade "às
idéias claras e distintas e aos símbolos
unívocos (...)", o professor "gasta
seu dia-a-dia iniciando discípulos nos não
mistérios do mundo diurno, sol a pino, sem
sombras e sem neblinas ..."(idem, pp. 75, 92
e 99).
E tudo isso deve nos levar a perguntar: enquanto educadores
queremos urubu ou bem-te-vi nas salas de aulas, nas
escolas, nas ruas, no país? É uma questão
de opção, apenas.
Pensemos na prática pedagógica, sabemos
é universal e, como Maria Isabel da Cunha (2001)
nos comenta, é "reforçada por anos
de didática prescritiva, reforça as
relações verticais e consagra o professor
como um repassador (até com boas habilidades)
de informações enquanto para o aluno
fica a perspectiva da memória e da reprodução
fidedigna. Este ritual da aula universitária
revela uma concepção de conhecimento,
de aprendizagem humana e, conseqüentemente, de
sociedade. (...) A maioria dos professores não
faz uma reflexão rigorosa sobre suas práticas
e, como produto acabado dos processos que os formaram,
repete os mesmos rituais que viveu" (p.81).
Como poderemos avançar
na qualidade e no compromisso do ensino?
Nossas práticas devem ser emancipatórias,
para isso pensemos em trabalhar com pesquisa em nossas
salas. De algum modo é o que vocês tem
feito quando percorrem a WEB, nos seus diversos metabuscadores
atrás de uma ou várias informações,quando
percorrem sites, livros, enciclopédias, revistas
impressas.
A pesquisa é trabalhar com dúvidas,
o erro e a incerteza é que gabaritam os caminhos
de uma investigação, aqui entra o professor
como grande orientador da aprendizagem individual
para a aprendizagem coletiva. Respeitando e oferecendo
as condições básicas para o aluno
produzir, isto é, ler, refletir, observar,
catalogar, classificar, perguntar em tempo disponível.
Ao professor hoje compete escolher entre a repetição
e a dependência de seu aluno ou educar para
a autonomia, a independência intelectual e social.
Lembrando que se fala todo o tempo de 'ensino com
pesquisa', para isso ser verdadeiro temos de considerar
nossos alunos capazes de produzirem suas experiências
de aprendizagens, para isso é necessário
um professor que saiba trabalhar com a dúvida,
o novo, substituindo, assim, a velha resposta pronta
às questões que os alunos nos colocam
em salas de aula, pela difícil capacidade de
reconstruirmos com nossos alunos o conhecimento.
Tudo isso porque não existe pesquisa sem leitura
do mundo real. Pois, é a partir do desafio
da prática que nasce o conhecimento teórico,
já que é da experimentação
e da observação que desenvolvemos a
reflexão e a análise.
Portanto, entendo que inovar em educação
é romper com o paradigma que domina a situação
educacional, inanição intelectual. Compete-nos
fazer avançar, entender e utilizar formas alternativas
de trabalhar em classe que quebrem de alguma forma,
em algumas situações com o tradicional
(repete-memoriza e tira dez), por isso, também,
não aceito somente agregarmos a tecnologia
a aula, mas ser um auxiliar a emancipar com e por
meio de tecnologias nossos professores e alunos para
o desenvolvimento social do país.
Ivani Fazenda, em "A pesquisa em educação
e as transformações do conhecimento.
Campinas: Papirus, 1995, p. 29-41), passa-nos a compreensão
da dimensão didático-pedagógica
de que durante "muito tempo os professores limitaram-se
a mobilizar um saber disciplinar, assumindo-se fundamentalmente
de conhecimento científico em história,
em biologia ou em matemática. Não espanta
que então, pela boca de Bernard Shaw, se lhes
tenha lançado o insulto, de que ainda hoje
se ouvem ecos: Quem sabe faz, quem não sabe
ensina. Pretendia-se relacionar a entrada no professorado
com um falhanço, nas áreas disciplinares
de base. Para o ensino iam apenas os medíocres
... Lee Shulman criticou essa perspectiva, afirmando
a necessidade de o professor conhecer a fundo a matéria
que ensina, tendo sugerido um novo aforismo: Quem
sabe faz; quem compreende ensina."
Qual é a sua
escolha? O que significa introduzir na vida do professor
o uso destas tecnologias que nos possibilitam ir além
de?
O professor hoje que compreende o fato
da educação continuada dele próprio,
entenderá que a alfabetização
tecnológica é necessária, pois
ele está envolvido na escola e na sociedade,
as tecnologias estão e fazem o mundo atual,
portanto o saber lidar com estas ferramentas não
é obrigatório, mas é o ideal
para sua referência crítica e construtiva
daquele que compreende o mundo a ponto de poder ensinar
e aprender com um outro ser neste mundo.
Compreendendo que com a capacitação
do professor no uso das tecnologias poderá
distinguir como, quando e por que são importantes
e devem ser utilizadas no processo educativo. Permitindo
que este mesmo professor não se sinta marginal
à realidade de seu aluno, participando para
se comprometer com a construção do conhecimento
dele e dos alunos.
É muito importante dizer agora que não
se tem aqui a intenção da exaltação
do uso da tecnologia de ensino ou no ensino de maneira
que restrinja a exigência da competência
intelectual dos professores, tornando-os puros manipuladores
de ferramentas, ao contrário, a posição
aqui é recuperar com as tecnologias o talento
de incorporar as experiências vitais de todos
os educadores com a utilização digna
destes instrumentos.
Ou seja, valorizar a qualidade do professor que conhece
seus alunos, experiências, perspectivas de vida
e profissão, suas realidades, para poder elaborar
pedagogicamente dinâmicas que auxiliem o processo
ensino-aprendizagem.
A Internet, os chats, as simulações,
CD-ROM, as listas de discussão, as páginas
web, os e-mails fazem parte destas experiências
e da realidade, por isso devem ser incorporadas ao
dia-a-dia da escola sob a regência de um profissional
com competência intelectual: o professor.
Muitos pensam que a utilização de tecnologias
pode desumanizar o ensino. Pensar assim é mistificar
a tecnologia, dar a ela um poder que não tem,
a tecnologia é apenas um recurso a serviço
do homem na trajetória da construção
do conhecimento.
Portanto, o professor hoje
pode negar esta ferramenta para uso na escola, seja
em sua aula tradicional, seja em aulas a distância?